quinta-feira, 7 de maio de 2009

Aquela Janela



Quando era menino, foi-me dada uma vez uma frase: aquela janela. Sobre ela desfiei muitas linhas que se perderam no tempo, ficando apenas a memória feliz. Não sei se vem daí a paixão pelas janelas, ou se teria antes encontrado uma paixão inconsciente que já existia.
Há provavelmente infinitas imagens que podemos ligar a uma janela mas julgo que, algures, juntei a janela a uma mulher. Hoje, quando olho para aquela mulher à janela, todas as emoções como que se juntam num sem fim de recordações.
Julgo que houve tempos em que a janela estaria fechada, e não sei se já está aberta, actualmente. Por vezes não sinto e não vejo sequer janela que não aquela, ou uma outra, da Lapa, sobre o Tejo, e a mais gratificante e mais nostálgica das imagens que guardo.
Através dela inspirava tudo e lançava tudo: vociferava poemas para a noite e ouvintes desconhecidos, choros de harmónica, gritos lancinantes de fúria e desespero, ou apenas o olhar, a perder-se na distância.
Raras vezes a janela sobre o Tejo me trazia tempestades, mas quando acontecia eram belas, sobretudo se os raios faiscavam e tombavam em apoteose na água.
Sempre que hoje revejo o Tejo, sinto a magia da minha janela, de onde mergulhava nele e por onde ele penetrava em mim.

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